domingo, 30 de outubro de 2011

AMORTECEDORES OU SUPORTES: O QUE ISSO TEM A VER COM VOCÊ?



Você já ouviu falar em suportes ou amortecedores ? Sabia que existem amortecedores psicológicos? Será que você tem algum e não sabe? Até que ponto os suportes são benéficos ou maléficos? É possível viver sem eles? O pensamento é um amortecedor? Vamos refletir juntos sobre este intrigante assunto que diz respeito a todos nós?

Você sabe qual é a função dos amortecedores , não sabe? Sua função principal é amortecer os choques resultantes da trepidação dos movimentos do automóvel. Na vida da gente, também temos vários amortecedores.  Eles servem para amenizar ou diminuir o choque das situações, acontecimentos e eventos dolorosos. Existem muitos tipos deles e, sem eles , o homem provavelmente enlouqueceria por não suportar o impacto dos choques a que estamos constantemente expostos. Apesar de haver uma pequena diferença entre suportes e amortecedores, ambos ajudam o homem a suportar algum tipo de insegurança, embaraço, ou sofrimento. O suporte é mais uma espécie de muleta, dando-lhe segurança e sustentação diante de situações embaraçosas ou momentos difíceis. Ex: diante de uma situação que o deixa nervoso ou desequilibrado, muitos recorrem ao cigarro, bebida ou algum outro subterfúgio para tentar restabelecer a calma. Já os amortecedores amenizam impactos dolorosos , ex: diante da solidão, do vazio, da tristeza ou frustração muitos recorrem à religião, esporte, atividades sociais, técnicas, bebidas, drogas, comprimidos etc visando suportar a dor. Mas, ambos funcionam como verdadeiros “consolos” que objetivam nos acalmar ou reestabelecer um certo equilíbrio necessário ao desempenho das atividades sociais e profissionais.
Não há mal nenhum em ter amortecedores, todavia, temos que tomar alguns cuidados com eles. Dependendo do caso, eles podem nos causar sérios problemas e imperdir- inclusive- nossa evolução e crescimento. Qualquer coisa pode tornar-se um suporte ou amortecedor: um livro, um amigo, um familiar, um animal, um jogo, um programa, uma atividade, uma religião, técnica, comida, viagem, trabalho, bebida, cigarro, droga etc. Estamos rodeados deles, e desde criança, aprendemos a usá-los conforme nossa conveniência e necessidade. Mas, como surgem os suportes? Por que nos tornamos – com o tempo- tão dependentes deles? Até que ponto um suporte é saudável e quando se torna prejudicial?

Segundo a Psicanálise, somos constituídos de três corpos : o físico , o mental e o emocional. Quando bebês, temos nossas carências, necessidades e desejos. Nessa época, a presença e companhia dos pais nos dão  a sensação de conforto, paz  e segurança que precisamos para nos sentir bem. Mas, infelizmente, à medida que crescemos, o nosso corpo emocional não acompanha o ritmo de desenvolvimento do corpo físico e mental. Resultando, daí, uma extrema imaturidade emocional. Estudos psicanalíticos comprovam que, em geral, a idade emocional das pessoas é de mais ou menos três anos de idade. Isso significa  que , mesmo adultos, continuamos agindo como crianças no que concerne às questões de natureza emocional. Isso explica porque, em geral, somos tão carentes, medrosos e inseguros e o porquê de precisarmos tantos das “muletas”, dos “amortecedores” e dos “suportes”.Ora, interiormente continuamos bebês. Todavia, como somos fisica  e mentalmente adultos, seria absurdo continuarmos com os mesmos hábitos de bebês. Já imaginou um adulto chorando porque os pais não estão ao seu lado? Ou um adulto berrando porque lhe falta um carinho, um consolo ou um mimo? Na impossibilidade de continuar com os mesmos suportes dos bebês- o que seria uma atitude socialmente vergonhosa e absurda- o ser humano substitui os suportes infantis por suportes “adultos” , pois estes são aprovados socialmente e amplamente aceitos. Daí que quase tudo em nossa vida passa a ter  uma função de suporte- pois ajuda-nos a superar ou suportar nossas dores e carências emocionais .
A sociedade está cheia de suportes. E, a cada dia, enventa-se mais. O mercado vive inventando coisas que simplesmente não precisamos. Mas, saciam alguma necessidade psicológica, geralmente relacionada à alguma necessidade de autoafirmação, distúrbio de comportamento, ou desequilibro mental. Objetos de consumo, tais como, novidades  eletrônicas, novos produtos , novos alimentos, novidades da informática, ou do ramo automobilístico etc. Além de novas técnicas esportivas , dietas,  técnicas revolucionárias, e treinamentos  de última geração, tudo pode funcionar como um suporte. O importante é entendermos que não há um “mal” intrínseco no suporte. Ele se torna um mal de acordo com a dependência ou do uso exagerado do mesmo. Por exemplo, o celular é  considerado um suporte que preenche minha necessidade de amenizar a solidão. Todavia, se o uso nos momentos certos, como instrumento de trabalho e comunicação, não há nenhum problema. Mas,se indivíduo tem uma extrema e neurótica dependência em relação ao celular. Se não consegue viver sem ele e quando está sem ele issocausa-lhe sofrimento psicológico -então temos aí um problema.
Vejamos o caso do computador, Internet,  redes sociais, bate-papos e os games, por exemplo. Ora, se uso essas coisas de uma forma saudável, moderada e útil, de modo que não atrapalhe, nem prejudique minha vida social, meu trabalho, família etc. Não há mal nenhum nisso. Todavia,  se me isolo do mundo para viver apenas para a Internet, deixando de ter vida social, prejudicando assim minhas relações familiares e profissionais- então, temos aí um grande problema- merecendo a atenção de um profissional. Da mesma forma são os demais suportes: bebida, sexo, fumo, droga, malhação, religião etc. Em suma, enquanto estivermos trilhando o “caminho do meio”, ensinado por Buda, que significa ser moderado e comedido em tudo, não há certamente, nenhum problema ou “neurose” mais grave.
Não podemos deixar de mencionar que os suportes químicos ,tais como, drogas, bebidas e cigarros etc. representam um risco a mais, pelo seu alto poder viciante e potencialmente destruidor. Podendo, inclusive, trazer sérios riscos  à saúde física e psicológica do indivíduo. Por exemplo, não há problema em se beber socialmente. Mas, o “socialmente” pode evoluir para uma doença mais grave, uma dependência química mais séria. Aí pesam  fatores genéticos, psíquicos e emocionais, que deve ser avaliado de acordo com cada caso. Por isso, não é exagero dizermos que há alguns suportes com potencial de riscos maior  do que outros-o que varia de pessoa a pessoa. Há, no entanto, suportes que não oferecem nenhum risco direto à saúde  do indivíduo sendo  até considerados  normais e saudáveis . É o caso, por exemplo, da religião, da malhação e dos esportes.
Existe ainda um amortecedor amplamente aceito e que, em geral, ninguém se dá conta: são os pensamentos. Assim como todos os outros amortecedores, os pensamentos não são intrinsecamente suportes – mas tornaram-se suporte  devido ao seu “uso abusivo” e descontrolado. E quando  é que os pensamentos passam a funcionar como amortecedores? Quando se interpõe entre o sujeito e a realidade, impedindo-o de contatar as sensações, emoções e reações de forma direta e objetiva. Vivemos pequenas crises a toda hora e instante, mas por que não percebemos? Porque vivemos constantemente sob o domínio dos pensamentos automáticos e reativos, que funcionam como um filtro entre você e a realidade. Se pudéssemos ouvir e sentir todos os sons, todas as impressões visuais, olfativas, sensoriais e táteis, diretamente, sem  a intermediação dos pensamentos, o que aconteceria? Cada "crise" seria percebida, compreendida e resolvida na hora da percepção, não permitindo a acumulação de resíduos na mente. Esses resíduos de experiências do passado, com o passar do tempo, acumula-se na consciência gerando a falsa noção de uma entidade permanente a que chamamos EGO.

  Os pensamentos tem funções claras e próprias, devendo ser usados de forma útil e funcional-como tudo na vida. Mas quando ele, o pensamento, torna-se descontrolado, reativo e caótico, isso gera um sujeito neurótico e desequilibrado. Contribuindo, também, para a manutenção de um mundo cada vez mais descontrolado e caótico. Ao colocarmos o pensamento em seu devido lugar, organizamos nosso mundo interior e ele passa a não funcionar mais como um suporte ou amortecedor.  Por ser  apenas mais um instrumento, o pensamento pode ser extremamente útil e importante para questões práticas que envolvem a comunicação, a lógica e o raciocício. Todavia, enquanto amortecedor, ele nos impede de viver a vida diretamente , completamente e em  toda sua plenitude.
Em suma,  temos que conhecer o que dentro de nós não está funcionando em seu devido lugar. Como, em geral,  somos extremamente carentes e imaturos, a facilidade de tranformarmos qualquer coisa em suporte é muito grande. Basta que essa coisa, pessoa, situação ou atividade nos forneça um pouco de paz, conforto e prazer -tudo o que uma mente emocionalmente imatura procura. Mas, suportes são sempre suportes-sejam eles quais forem. A questão é : será que poderemos viver sem eles, ou a sociedade fundamenta-se neles? Será que algum dia poderemos ser livres dos suportes – psicologicamente falando? Ora, o fato é que todos nós temos que conhecer nossos suportes e saber quais necessidades emocionais ou psicológicas eles preenchem. Desta forma, poderemos saber se algum deles está nos prejudicando ou não. A  Psicologia, a Psicanálise, o Autoconhecimento e a Meditação poderão ,certamente, ajudar-nos neste particular. Ao profundarmos nosso autoconhecimento, descobrindo nossos suportes e carências emocionais, estaremos  iluminando nosso interior, e essa luz estabelece a ordem ,o equilíbrio e a autonomia em relação a eles. Só assim, poderemos  nos tornar seres humanos mais saudáveis e equilibrados. E assim, contribuiremos para construção de uma sociedade mais humana, plena e feliz.

Alsibar ( inspirado)
alsibar1@hotmail.com

Um comentário:

  1. Muito legal sua reflexão sobre tal tema...

    "Vamos glorificar Aquele a Quem o mundo nega, pois sobre o Seu Reino o mundo não tem poder. Ninguém que tenha sido criado por Deus pode achar alegria em coisa alguma exceto o eterno; não porque esteja privado de qualquer outra coisa, mas porque nenhuma outra coisa é digna dele. O que Deus e Seus Filhos criam é eterno e nisso, e apenas nisso, está a alegria para eles." (UCEM-T-8.VI.3)

    SHALOM!
    NAMASTÊ!

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